* Seria a Rússia uma nova ‘bússola moral’ no mundo?

 

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O jornal britânico The Telegraph publicou que o presidente russo Vladimir Putin ”lançou a Rússia à posição de árbitro moral do mundo” durante o seu discurso anual sobre o estado da nação, na semana passada.

“Putin defendeu os valores cada vez mais conservadores do seu governo e lamentou a ‘revisão de normas da moralidade’ no Ocidente e em outras regiões do planeta. ‘Essa destruição dos elevados valores tradicionais não só traz consequências negativas para a sociedade como é também inerentemente antidemocrática, já que se baseia numa noção abstrata e vai contra a vontade da maioria do povo’, disse Putin, acrescentando que não pode haver benefício para a sociedade quando se trata ‘o bem e o mal’ de forma igual. Em seus 70 minutos de discurso, pronunciado num ornamentado salão do Kremlin e transmitido pela televisão, Putin declarou que os valores familiares tradicionais são um baluarte contra a ‘assim chamada tolerância – sem gênero e infértil’”.

As palavras de Putin foram a culminação de várias atitudes chamativas do presidente russo durante este ano. Em fevereiro, ele apelou por uma influência maior da Igreja Ortodoxa Russa no país. Putin levou a Rússia a resistir ao avanço da agenda gay: as paradas do orgulho gay e a “propaganda de relações sexuais não tradicionais” para menores foram proibidas. Neste recém-terminado mês de novembro, o presidente russo visitou o papa no Vaticano: as fotos do encontro histórico mostram Putin e Francisco beijando um ícone da Santíssima Virgem Maria.

A legenda de um meme do Facebook sobre o encontro diz:

“Se em 1959 você contasse a um católico (ou a qualquer pessoa, em suma) que o presidente russo iria beijar uma imagem de Maria ao lado do papa enquanto o presidente dos EUA iria apoiar o aborto, ignorar a embaixada do Vaticano, lançar aviões não tripulados como armas de guerra, ameaçar o matrimônio, invadir a privacidade das pessoas e espionar os líderes estrangeiros, teriam achado, com certeza, que você andou fumando a droga equivalente ao crack naquela época. Por mais que Putin não seja nenhum santo, que dias estranhos estes em que vivemos!”.

Nem todo mundo, porém, está levando a sério a recém-descoberta “liderança moral” de Putin.

“Putin vai fazer ou dizer qualquer coisa para promover a Rússia e o seu próprio poder”, dispara Anthony Esolen, professor de literatura no Providence College, dos EUA. “A Rússia não é a bússola moral nem dela própria, que dirá do mundo”.

O escritor norte-americano John Zmirak é igualmente cético. “Nós temos que desconfiar desse uso que o Putin está fazendo da Igreja russa para apoiar o seu regime, que é profundamente imperfeito, que se baseia no capitalismo de compadrio e em táticas um tanto autoritárias. Mesmo assim, as políticas do regime Putin estão muito mais alinhadas com a lei natural do que as políticas do governo Obama. Levando em conta que os dois foram treinados no marxismo, Putin chegou bem mais perto da visão do bem que animava os fundadores dos Estados Unidos da América do que o nosso querido presidente”.

Professor de Teologia na Universidade Franciscana de Steubenville, John Bergsma enxerga algumas coisas boas surgindo na Rússia de Putin, mas diz que os principais problemas continuam. “No lado positivo, a Rússia se tornou de repente um aliado das ONGs pró-família na ONU, com destaque para o fato de que a Rússia é um dos poucos países desenvolvidos que falam e agem contra a ‘esquerda sexual’, esse movimento internacional pró-homossexuais que tenta glamourizar a atividade homossexual e consagrá-la como um direito humano.

Por outro lado, o governo russo ainda sofre com a corrupção em muitos níveis, falta proteção aos direitos humanos e policiamento adequado em várias partes da Rússia, e a estrutura familiar russa ainda não se recuperou das décadas de materialismo ateu forçado”.